sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Em meio a cochilos e páginas ressecadas


    Sonhos arrebatadores esses meus, não? Agarram-me a noite inteira e pela manhã levam minha cabeça em direção às nuvens. Lembro-me que quando criança costumava dar sentido a tudo. Os livros sempre me ensinaram. A regra principal era que nada poderia ser simplesmente qualquer coisa que passa despercebida. Pedras não eram simples pedras, casas não eram simples casas. Tudo se transformava, e o rotineiro quintal passava a ser meu costumeiro palácio.
  Dentro da kombi de meu tio, com óculos redondinhos estilo Lennon, imaginava-me em filmes dos anos 70, 80, rumando sem destino algum. Foram boas viagens aquelas. Poucos minutos na cidade acabavam sendo trajetos incríveis. 
     Nos bares e restaurantes, meu copo de refrigerante era meu conhaque e um cigarro invisível estonteava em minhas mãos. Estaria eu numa daquelas varandas de cobertura, com uma paisagem incrível a minha frente, ao som do jazz e do blues, às onze da noite? Uma noite de lua cheia e céu não tão estrelado, pensando como a vida poderia ser melhor numa tranquila casa de campo, rodeada de flamboyants e buganvillas. 
     Já quis ser muitos. Quis fazer tantas coisas, tocar tantos instrumentos. Dançar sob a chuva e sobre um píer, enquanto as ondas batiam violentamente contra a madeira velha. Mas a verdade é que tenho sido um pouco de mim a cada passo incerto que dou. Tenho sido eu a cada viagem, a cada travessia do chão aos céus, a cada nota musical de meu humilde teclado. O fato é que meu apanhador de sonhos tem funcionado muito bem. Poderão me dizer que apenas vivo meu desejo frustrado de ser tantos personagens? Seria eu uma simples atriz fracassada?


Talvez... Mas nada nega que no final das contas, tudo não passa de um EU, um EU louco para ser.
      
      

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